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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Fanatismo

Bem fortes, sem gelo e quase sem nada de açúcar. É assim que peço as minhas poesias. Mas como eu poderia enquadrar uma poesia no setor ‘forte’? Poesia forte é poesia com drama. Se tiver uma aura trágica já me causa delírios.

Ah, uma poesia forte tem que ter um conteúdo arrebatador. Ok, falar sobre a natureza é bonitinho, as cores, os sabores... mas isso ainda é não conquista. Nada sobre um amor perdido, nem todos os amores duram pra sempre, e mesmo assim esse enredo fica mais interessante quando são contados em histórias ou mitos. 

 
Lida, a poesia carrega em suas letras o peso da mão do poeta. Cada construção textual vibra quando os olhos batem no papel, no livro ou na tela. É como, se a cada passada de olhos os “ais” e os “ós”, gritassem de prazer e de dor. 

Poesia, para ser impactante, tem que chocar! Isso é o mínimo que se pede. O choque pode ser um doce deleite da alma ou então uma grosseria para os olhos. Esse amontoado de letrinhas dispostas em versos e rimas pedem, de quem as lê, um coração ofegante.

Declamada, ela exige uma interpretação que tenha olhares dançantes, mãos que deslizem o ar ou que se encontrem umas nas outras. Pede impacto na voz: alteradas ou sussurradas eles eternizam o momento. As letras, que se amplificam no som, querem sair correndo da boca de alguém pra se perderem por aí.

Vontades que se extrapolam. Queremos ser o poeta, ou a poesia. Temos desejo de pertencer ao movimentado espaço poético. Porque queremos, fanaticamente, sentir!
 
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sábado, 28 de agosto de 2010

Interiorices

Registro da sacada, na casa do Profº Bebeto Badke, no interior da cidade de Itaara (2008)
   Nasci numa cidade do interior [sim, por mais que eu também discorde, o Alegrete é uma cidade do interior]. Com seus 88 mil habitantes a minha terra que fica pros lados da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, é reconhecidamente [só pra não dizerem que tou me exibindo] o maior município em extensão territorial do Estado. Podem olhar no mapa aqui.
   Morei lá por quase 19 anos e convivia com aquelas histórias inerentes às cidades em que quase todo mundo conhece todo mundo. A vida exposta, os diz-que-me-diz acontecendo e os boatos sempre muito bem alimentados.
   Uma das minhas primas que nasceu e morou por anos no Baita Chão [uma das designações para Alegrete], e que há alguns anos reside em Brasília, ficou curiosa em saber como as pessoas podiam saber tanto da vida das outras. Pois bem, ela mesma me respondeu isso um tempinho depois. Ficou sentada na sacada depois do almoço por algumas horas e viu o ir e vir do povo: o senhor que foi ao mercado e voltou carregado de sacolas; a mãe que levou a filha na escola e foi multada por ter estacionado em local proibido... e por ai vai. Moral da tarde passada na sacada: o nada para fazer te dá essa oportunidade de cuidar da vida dos outros. Ela, que não para nunca, viu o que as pessoas que tem um tempo mais livre fazem: cuidam da vida alheia.
   Depois morei em Santa Maria [que com sua população flutuante de quase 300 mil habitantes, nem arrisco de chamar de interior... mas é]. Mas dessa vez vamos pular a cidade da Boca do Monte, sair da Região Central e irmos para a Região Noroeste.
   E cá estou eu em Três de Maio. São 22 mil habitantes numa cidade de meia idade e população de origem alemã, italiana e polonesa. Ou seja, eu que sou origem de uma mistura histórica de espanhóis-portugueses-índios-negros, sou visivelmente um ser estranho neste ninho.
Logo que cheguei aqui os olhares tentavam descobrir quem era aquela pessoinha de cabelo preto, sem a altura das alemoas e com a pele cor de cuia. Parecia que eu tinha a palavra ‘forasteira’ colada na testa. Mas enfim, hoje já tenho para quem dar ‘oi’ na rua e já sou convidada para os aniversários. Êba!
   Mas o interior também tem seu interior. No Alegrete quem mora pra fora [da cidade] é chamado de bacudo. Aqui em Três de Maio, como a maioria mora em terras pequenas [as colônias], é colono mesmo. E esses dias conversando com uma colona da minha idade [23 anos], descobri que ela tem 2 filhos e está grávida do 3º. Levemente assustada com a situação perguntei por que casou e teve tudo isso de filhos tão nova. E ela, com a vozinha baixa me disse: “Aqui no interior é assim, não tem muito o que fazer. Ou vai morar fora e estuda ou faz que nem eu...casa e tem filho pra ocupar o tempo”. 
   Realidades do interior que estão esperando por mudanças.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Boa noite, Tulipa!

Já era a vez naquela noite que Tulipa se levantava da cama. Também era a vez que acendia a luminária do quarto em menos de duas horas. Vendo seu reflexo do espelho e suspirou “Santo Deus! Será que não vou conseguir dormir de novo?”. E se levantou.
Ela já devia estar cansada a essa altura da noite. Afinal, acordou cedo. Tomou um banho de chuva sem querer no caminho do cursinho de espanhol. Revezou entre uma garfada e a digitação de um trabalho na hora do almoço. Antes das duas horas já estava na fila do Theatro para reservar um ingresso para um espetáculo, e no resto do dia ainda teve que aturar os comentários vazios dos colegas da Faculdade e a indiferença do colega da turma do fim do corredor. Isso já eram motivos mais que suficientes para chegar em casa, tomar um chá, esconder-se debaixo das cobertas e acordar só na manhã seguinte, beem tarde.
Mas não! Ela definitivamente não ia conseguir dormir, pelo menos não aquela noite. Quem sabe quando o dia estivesse amanhecendo ou de tarde depois do almoço no shopping que ela tinha marcado com a tia. Mas não aquela noite. Não antes do que iria acontecer depois que a cidade já estivesse acordada. Mas ela não sabia disso. O fato era que ela estava de pé às 4h30min da manhã e tinha que fazer alguma coisa até o sono vir, ou pelo menos até amanhecer.
Olhou o livro que estava no criado-mudo e lhe bateu um desânimo. Ligou a TV para ver se distraia um pouco e foi um desastre total, num canal um filme daqueles que ela só via junto com TODAS as amigas que tinha na agenda do celular, de tão aterrorizante que era. Partiu então pro próximo plano, comer! Sim, assaltar a geladeira. Pão, presunto, queijo, margarina e está feita a torrada mais perfeita do mundo segundo Tulipa, a dela.
Sentou na escrivaninha do quarto e se pôs a devorar aquilo que no dia seguinte seria o motivo para uma boa caminhada. Entre uma mordida e outra se distraiu mexendo nas mensagens do seu celular. Releu uma mensagem de uma amiga que tinha viajado pra outro Estado e que viria no próximo feriadão, outra de um ex-vizinho que queria saber quando que eles iriam marcar um confronto no xadrez, e por fim a mensagem que recebeu do ex-namorado nas férias: ele pedindo um tempo depois que ela viajou no dia que do aniversário de um mês de namoro. “Tá! Eu sei que eu errei em não avisar que eu ia embora naquele dia. Sei que errei quando ele chegou aqui em casa com um filme pra gente assistir e eu já estava com as malas prontas para viajar. Mas bem que ele podia entender né! Eu nem ia demorar tanto lá, um mesinho e eu já tava de volta. Simples!”. Era o que ela pensava, mas não foi bem o que ele pensou na hora que encontrou a namorada pronta para pôr o pé na estrada, e não foi o que ele pensou nesse mesinho que ela passou longe. 
Ele, o colega da turma do fim do corredor. O da indiferença. É claro que eles conversam, e bastante até, mas só quando se encontram por acaso no corredor ou nos intervalos das aulas. Mas os assuntos não são nada animadores. De nada adiantou as mil desculpas de Tulipa. “Ou eu paro de pensar nessa criatura dos infernos ou...”, mal terminou de fechar a boca e o celular que ainda estava na sua mão tocou. 
     Quando ela foi pensar o que todo mundo pensaria ao ver o seu celular tocar as 6h17min da madrugada, “Quem será há essas horas?”. Leu o nome de quem estava ligando. Era ele. “Ele? AI MEU DEUS!”, disse enquanto aquelas três letras do apelido dele brilhavam no visor, e alí ficou ela olhando pro celular tremelicando na mão. Até que atendeu e falou um alô todo feliz. Ele do outro lado respondeu: “Oi! Desculpa ligar essa hora da madrugada, se bem que já é quase de manhã. Mas é que eu não consegui dormir nada, passei a noite pensando em na gente. Te acordei né?”. E ela, depois de se acomodar bem na cama, de ajeitar o travesseiro e fingir um bocejo, disse com aquela voz de quem arrecém está acordando: “Ahhhh, mas não tem problema! Eu já tava quase levantando mesmo”.
 

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

política? poooode.

Quando você é repórter e quer participar da oposição [mas eu prefiro a ideia de política, mesmo]*, não pode usar juízos de valor e nem adjetivos como os grandes articulistas que tem um espaço à sua disposição. O que você pode fazer é organizar os fatos de forma tal que incomodem o adversário. 
[Fernando Gabeira]

*intervenção minha

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Avante, Guerreiros!

  A história do nosso povo e da nossa terra está fundamentada sob dois sentimentos que expressam na forma da vitória e da derrota. Deles depende a existência de muitas famílias, a sobrevivência de raças e são eles que guiam as decisões pessoais.  
  Desde sempre, seja na luta por um amor. Na disputa por um emprego. No embate de uma guerra. E até mesmo, num jogo de xadrez, sabemos que o tênue limite que existe entre o MEDO e a CORAGEM impõe uma incrível diferença na tomada de decisões. 
  Aliada à valentia, à audácia e à curiosidade, a CORAGEM é um sentimento inerente aos fortes e bravios. Guerreiros e desbravadores eram corajosos. Deuses e nobres eram corajosos. Já o MEDO, sempre foi relegado aos fracos, aos vencidos. Coisa de covardes e quase um defeito. 
  Apesar da palavra CORAGEM se materializar na minha mente em enormes e robustas letras azuis, de textura metálica e contornos prateados. E, que, para ver a palavra MEDO tenho que procurar no canto de uma parede quatro letrinhas agachadas, acuadas e trêmulas. Aqui, reduzo-as ao mesmo formato: Verdana 11. Iguais! 
O MEDO também é um sentimento nobre. Sem cautela e preocupação, a CORAGEM não basta. O escritor Paulo Coelho confirma isso num trecho de O Manual do Guerreiro da Luz:  
“Valentes são os que tomam decisões com medo. Que são atormentados pelo demônio a cada passo do caminho. Que se angustiam. Que vivem se perguntando se estão certos ou errados. E mesmo assim agem. Agem porque acreditam”. 
  Sabemos que, para tudo dar certo, tem que haver harmonia. MEDO e CORAGEM devem estar próximos, criando homens confiantes e conscientes. E não criaturas subjugadas, que fazem das suas vidas grutas sombrias. Ou então pessoas que se intitulam invencíveis e destemidas. 
  Bem dosados, MEDO E CORAGEM, são o elixir do sucesso. A tacada de mestre que todos nós queremos dar na vida.

Caiu na rede: Um clique na literatura on-line

Passear por entre estantes repletas de livros de uma biblioteca, e lá gastar um bom tempo. Escrever poesias que se perdem no meio dos cadernos de anotações. Guardar pastas e mais pastas onde estão arquivados os antigos contos escritos. 
Quem já não viveu, ou vive, uma dessas situações? Mas com a popularização dos computadores e da Internet, tudo isso parece ter ficado mais fácil. Ou, pelo menos, mais organizado.
A tecnologia on-line revolucionou e ampliou uma tradição que ganhou o gosto popular graças à prensa de Gutenberg: a literatura. Um olhar diferente sobre a forma de ler e apreciar esses textos virtuais  em blogs, sites e fóruns de discussão na Web fizeram surgir um espaço onde a liberdade de criação é ainda maior. 
A Internet, que antes parecia decretar o fim dos livros e da literatura, transformou-se numa aliada e tanto na divulgação das obras literárias. 

Pequenas histórias de um grande universo
Re-inventar. É isso que as tecnologias vêm fazendo ao longo dos tempos. E com a literatura on-line esse processo não foi diferente. Essa re-invenção não atingiu somente os leitores, mas também fez com que escritores provocassem, em quem lê, novas impressões. A jornalista e produtora de eventos Dedé Ribeiro, cria essa atmosfera ao desenvolver uma identificação entre os diálogos de seus personagens nos Micro-dramas com histórias da vida real. De Porto Alegre, ela escreve pequenas histórias que se originam de frases soltas que ouve no dia-a-dia. A Internet, um meio múltiplo, virou um modo interessante de divulgar esse tipo alternativo de literatura, e Dedé também os envia por e-mail. 

Minicontos, doses homeopáticas de satisfação
A incerteza de que seus textos sairiam ou não das gavetas deixou de existir há um bom tempo. O prazer de ler boas produções literárias, também. E é com uma leitura agradável que o médico e escritor de São Gabriel, Leonardo Brasiliense recheia seu Site. Agilidade é uma das palavras chaves da rede mundial de computadores. Leonardo cria seus Minicontos com textos ágeis e sacadas brilhantes. Os leitores internautas podem se validar de outro trunfo do espaço virtual, o contato com o autor. Essa conexão é importante para o trabalho de quem cria, pois funciona como um termômetro de recepção que pode influenciar na qualidade da produção. E para quem os textos são escritos, a possibilidade da interação torna possível expressar admiração e outras percepções.

Poeta.com
Sem dúvida seria muito atraente a possibilidade de ter um livro onde estivessem reunidas algumas poesias, fotopoemas e mais um tanto de textos em prosa. Mas enquanto não somos surpreendidos com tal compêndio, literalmente de peso, podemos desfrutar de todos esses gêneros com um clique. Um exemplo que explora bem a estética da linguagem, é o Site do santa-mariense Olegário Schmitt. A web, com todo o espaço que dispõe, favorece ainda mais a liberdade de criação. Essa facilidade de materializar pensamentos, seduz. Em sua outra página on-line, o blog Sinal dos Tempos, Olegário se dedica à expressividade da poesia. O estilo, que já narrou as peripécias de grandes exploradores do passado, mostrou vitalidade para brilhar no meio de tanta diversidade de informação e conteúdo que a Internet oferece.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O viés da traficante

Quando eu não sei o que fazer, escrevo. Mas isso também acontece para quando eu sei o que fazer. E o mais agravante ainda, toda vez que tenho certeza... também escrevo. Esse não ter por onde escapar é até bom.
  Quando eu era pequena e ainda não pertencia ao mundo das pessoas que sabiam juntar as letras. Eu pegava o lápis e ia passando por cima das letras dos livros e das revistas. Riscava tudo por achar bonito aquele tipo de desenho que só eu não sabia fazer. Ou então recortava e guardava, como quem guarda um pôster ou uma foto. Depois que 'b+a' viraram 'ba' pra mim, as coisas mudaram.. e muito.
   De lá pra cá, já enchi uma montoeira de cadernos com as coisas que aprendia no colégio e outros tantos recriando em poesia o que eu achava ser poesia [eu e essa minha mania de imitar a minha mãe, que é professora e poetisa]!
Mais pra adiante, percebi que eu só ia trabalhar em algo se fosse pra escrever. Mas isso de não ter uma faculdade e nem carteira assinada pra escritor, me fez amassar umas quantas folhas. Até que descobri uma profissão que aliava o agradável ao agradável [sim, desse jeito mesmo]. E não é que virei Jornalista?! Espera... vou delinear melhor isso. O que aconteceu é que, descobri, que eu era Jornalista. Aham! Sim, foi um estalo. Mas pra ser mais específica.. Jornalista de Impresso. 
   É preciso do papel jornal [ou então de um deslumbrante e macio papel couchê]. Necessito ver minhas ideais impressas, táteis e ao alcance dos meus olhos. Coisa de maniática, eu sei. Mas o que há de se fazer?!
Mas como não consigo parar quieta. Vim traficar minhas palavras [as que ainda não encostaram no papel, as que se exibem no jornal ou na revista e aquelas que fogem do teclado especialmente para este blog]. 
Obrigada por estar em busca de outro viés de ilusão!