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sábado, 10 de março de 2018

dos erros da gente e dos outros


É verdade que, de erro em erro, a gente aprende? Acho que não. A gente só esquece. Abstrai. Empurra com a barriga. Finge e segue em frente. No que diz respeito ao que bate no peito da gente, isso poderia virar uma tatuagem bem visível (de preferência neste mesmo peito), escrito assim em letras coloridas e bem grandes: a gente erra e não aprende, só acumula.

Imagem: www.emmahan.com
Uma pilha de erros que vão empurrando os antigos e deixando eles tão bobinhos que a gente até acha graça. É isso mesmo, o tempo faz a gente rir do que tanto nos machucou. Não só o tempo, porque ele sim ensina. O que fode é a grande, enorme, ridiculamente extensa fila de erros. O coração, coitado, já não sabe mais distinguir. Apanhou tanto que confunde, deixa passar e tem aquelas vezes (péssimas, alias) que releva.

Vou repetir aqui para não deixar escapar nada (tá lendo isto coração?): a gente ri, deixa passar e releva muita coisa. Não pode, não pode e não pode. Mas adianta chamar toda esta atenção?! Que nada.  Afinal, bem ou mal, a gente acredita. E uma fila de possibilidades se forma quando invocamos este sentimento, acreditamos que: tudo vai dar certo, que ele vai mudar, que a gente vai mudar, que pode se tentar de outra forma, que vai ter uma hora certa...

E vou parar por aqui, porque já me perdi nas tantas desculpas que inventei para seguir em frente (ou apenas para dar conta de não desmoronar).

E a gente faz tudo isso para que? Porque não tem como deixar o tal do coração dentro de uma caixinha, todo bonitinho e seguro longe daqueles sorrisos que te desarmam ou então daqueles olhares que fazem a tua alma pairar no ar. Não dá e ponto. Porque não damos festas onde só a gente está na lista de convidados. Por isso que estamos aqui, enfrentando uma artilharia de rejeições, recebendo tiros à queima roupa de balas que eram destinadas a outras pessoas e nós tivemos a brilhante ideia de nos jogarmos na frente e vários canhões com munição escassa, que não mata e só machuca. 

Mas não temos muito para onde correr. O jeito (não o certo, atenção para isso) é estar ciente que vão errar com a gente e semi nos protegermos. Dos outros e da gente!


quinta-feira, 1 de março de 2018

sobre conexões


Existe um oceano entre mim e ele. E como eu queria que isto fosse apenas uma figura de linguagem. Mas é isso mesmo, tem de se ir muito longe para se estar um tanto mais perto. Levou um tempo para que nós dois estivéssemos dentro de um abraço. Tudo ia além. E quando os sentimentos vão além, a gente percebe.

imagem: themoonofsimplicity.tumblr.com
Nosso amor nasceu moderno: entre bytes, pixel e horas de conexão compartilhadas entre fuso-horários. Vimos a tecnologia evoluir sob nossos dedos no teclado e nossas tentativas de uma transmissão de vídeo decente. E como explicar para as pessoas que, em algum lugar do mundo (no qual tu jamais colocou os pés) bate um coração atrás da tela de um computador e ele está em sintonia com o teu?! Ninguém entenderia, nem eu! Mas é comigo, e bem sei o quão real tudo isto é.

Anos e anos (e mais alguns anos) nos ensinaram a lidar com este oceano, com uma vida semi-encaminhada que cada um construiu para si, com os outros alguéns que apareceram e desapareceram com a mesma frequência. E, com aquele sentimento que ajudava a respirar: a esperança de encurtar distâncias. Por uma noite, o mundo foi todo nosso.

Sem fronteiras. Sem janelas de um chat para serem fechadas, só aquelas que tiveram de, apressadamente, serem abertas para deixar o ar entrar. De plano de fundo agora só as nossas fotos em um país tão antigo quanto as nossas origens, e não da tela do computador. Foi assim que transformamos o touchscreen em uma tecnologia muito mais eficiente: as minhas mãos tocando a pele dele, ao vivo, a cores e com uma definição de imagem jamais vista (só por nós dois). Sem a necessidade de gastar dados ou wifi, nos conectamos à melhor rede social que existe: dentro de um abraço. Interatividade em seu mais alto grau de eficiência. Mesmo que a memória de nossos corações fosse infinita, nós sabíamos que o tempo de conexão compartilhada tinha limite. Ainda mais quando se opera em roaming.

Vai chegar a hora que iremos parar de inserir códigos de DDI nas ligações por celular, que não vai ser preciso mais perguntar a quantas horas de diferença estamos (para que ninguém acorde o outro de madrugada) e que possamos compartilhar a internet do mesmo modem.