[trecho do delicioso texto 'Eu sinto muito, mas eu não sinto nada', da Clara Averbuck]
Tive uns anos do cão. Só a gente sabe dos danos que essa vida nos causa. E eu, olha, eu fiquei totalmente danificada. Algumas pessoas deixam um rastro tão nefasto na vida de outras que não consigo ver de outra forma senão essa: um dano. Um rasgo. Um aleijão.
E não, não passa. Nada passa. Tudo que nos acontece fica marcado de uma forma ou de outra em algum lugar. A gente pode até achar que passa, pode achar isso nos momentos bons, mas aquilo fica lá, entranhado em você. Trauma pode se manifestar em forma de raiva, de desprezo, pode virar uma repetição de padrão destrutiva, pode te deixar pra sempre com medo, pode te fazer ficar por demais destemido.
O que consigo ver que aconteceu comigo é o seguinte: eu sequei. Me sinto toda esfarelada. Danificada. Rachada como um terreno arenoso onde é necessário um instinto filho da puta pra poder sobreviver. Até nasce uma coisinha ou outra ali, mas qualquer coisa mais delicada murcha e morre rapidinho. É assim que eu ando me sentindo. Calcificada por dentro.
[leia o texto completo aqui]
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