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terça-feira, 25 de setembro de 2012

batismos de fogo

[trecho do delicioso texto 'Eu sinto muito, mas eu não sinto nada', da Clara Averbuck


Tive uns anos do cão. Só a gente sabe dos danos que essa vida nos causa. E eu, olha, eu fiquei totalmente danificada. Algumas pessoas deixam um rastro tão nefasto na vida de outras que não consigo ver de outra forma senão essa: um dano. Um rasgo. Um aleijão. 

E não, não passa. Nada passa. Tudo que nos acontece fica marcado de uma forma ou de outra em algum lugar. A gente pode até achar que passa, pode achar isso nos momentos bons, mas aquilo fica lá, entranhado em você. Trauma pode se manifestar em forma de raiva, de desprezo, pode virar uma repetição de padrão destrutiva, pode te deixar pra sempre com medo, pode te fazer ficar por demais destemido. 

O que consigo ver que aconteceu comigo é o seguinte: eu sequei. Me sinto toda esfarelada. Danificada. Rachada como um terreno arenoso onde é necessário um instinto filho da puta pra poder sobreviver. Até nasce uma coisinha ou outra ali, mas qualquer coisa mais delicada murcha e morre rapidinho. É assim que eu ando me sentindo. Calcificada por dentro. 


[leia o texto completo aqui]

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

de ter impactos


Pode transformar a parede em colchão e a cama em guarda-roupa. Desista de encontrar o interruptor da luz e pode começar a gastar energia em não encontrar sentido algum. Vire, desvire e, por favor, deixa rolar por aí. 

Faça de conta que é tudo uma história de 20 páginas, 90 páginas, 700 páginas e molhe todos os dedos pra deslizar sobre o que não é papel. Invista em procurar ângulos perfeitos que exponham todas as verdades e desfacelem as tais mentiras. Prenda o fôlego pra ir mais além e solte (com tudo) pra não mais esquecer. 

Conte todas as suas vontades enquanto tiver cosciência pra pensar. E, quando tudo desordenar, destrave os impulsos pra fazer minha alma deslizar sobre o corrimão e se esbaldar no último degrau.

Cubra-se de vontades e encare o escuro quando soltar seu coração sobre o escândalo do meu peito. Dele e neles, pra cima e pra baixo, vou forjando os sentimentos e os sentidos que a boca quer desgarrar de mim.

E se for pedir 'por favor', que seja por mais!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

tá boa?


Jamais ideais são os dias que passamos

Turvos de tantos andares
e, quase, nus dos muitos olhares.

Ao jeito, vamos atirando cordas pelo chão
Amarradas em nossas cinturas
trazem os compassos alheios dos que se vão.

Faz parte ser mais alguém que não é a gente
só pra ter o prazer de sentir mais.
Se pra sempre fosse só eu,
acho que imploraria por outras vontades banais.


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